segunda-feira, 26 de setembro de 2016

#96

Ao ler Memórias do Subsolo, inspirei-me a praticar a mesma atitude daquele narrador: desenfrear a divagar sobre os assuntos que viessem, e debruçar-me sobre eles. 

Dos temas que mais me atrapalho em pensamentos, há alguns que são recorrentes: o amor, a fé, a religião, a vida, a morte. Nada que não seja assim... Bom, na verdade, super são os problemas do mundo, sabe... mil filósofos e pensadores tiveram mil ideias sobre tudo isso... e qual o tamanho da minha ignorância! Há tanto pra se saber antes de se chegar a uma conclusão. Entro em crise. 

Sou assim, superficial em tantos assuntos e medrosa em chegar à conclusões sobre eles. Fora minha sempre inconstância de pensar em algo agora que eu já não quero mais dois segundos depois. O que é então o movimento da vida? 

Estive pensando por exemplo que a morte é inevitável a todos. E que a humanidade se apropriou de diversas forma de religião apenas para responder àquela pergunta de ouro: qual o propósito da vida? Se vc está na igreja, e seja qual for, está inserido em um círculo social onde status, posses, ações e hierarquias funcionam como em qualquer lugar. A diferença está mesmo no propósito. (seja qual for este) Deus tem um propósito. Ele quer um relacionamento. Deus tem as respostas. E daí não há o trabalho de se elaborar as perguntas, já que as respostas estão todas guardadas em Deus (qualquer deus). Se você sair desse círculo então, a crise fica maior. Se não há propósito em Deus, onde estará o propósito? Na diversão e prazer individuais? No desenvolvimento da própria inteligência? Na compreensão e produção da arte? No desenvolvimento dos filhos? (com que propósito?) O que se produz ou o que se faz no tempo livre creio que podem ser os determinantes para o que se compreender individualmente como motivo para existência. E o que eu faço? Tento terminar a faculdade, tento ler coisas que me agradam. Tento saber um pouco mais das perguntas da vida... e depois ? Vejo um filme, ouço uma música... talvez eu conclua que minha existência é vazia. Que não defini um propósito. E é preciso ter um? Tudo vai murchar um dia.. que diferença fará meu salário quando eu estiver no pó? Um dia todos vamos morrer, li numa tirinha, mas em todos os outros vamos viver. (viver??) Tanta superficialidade em torno de uma significação tão profunda. Talvez não tão  profunda, talvez não tão complexa... mas certamente efêmera. De que valerá então?

Sair deste mundo parece-me inevitável. O que fazer no intervalo? Já não tenho motivações para sair do quarto pela manhã. Um cotidiano burocrático e sem vida. Uma rotina cheia de baixos e altos. Que se destinam a.. nada. Não faz diferença com quem se dormirá hoje ou amanhã... se no fim todos teremos camas iguais... vasos baratos cheios de cinzas. E órgãos doados para prolongar a vida (?) ou meia-vida de sabe-se quem... adiando o inevitável, construindo um frágil castelo de cartas... uma por vez... sempre na certeza de que a próxima carta será a última...

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

CALA, MEU AMOR

CALA, MEU AMOR

Vinicius de Moraes, Antonio Carlos Jobim

Entra, meu amor
Bom você voltar
De onde vem você
Cansado assim?

Vejo tanta dor
No teu triste olhar
Este olhar que, outrora
Se acendia só pra mim

Cala, meu amor
Fala, meu amor
É melhor você nada contar

Venha aos braços meus
Que os abraços meus
Vão finalmente te fazer chorar

#121
Faltam 121 dias para o fim do ano

Hoje, então, dia 121!

A tristeza é um sentimento engraçado. Você acha que vai saber lidar com ela, mas não sabe mesmo.
Da minha tristeza eu sei dizer... ela pode ser progressiva daqui até o dia 1. Ou não.

Há esperanças? Sim

O que é a vida senão um esboço? Como saber se acertamos ou não?
 Ai... Itabira é apenas uma fotografia na parede... mas como dói!

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e        sem horizontes
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
                                                   é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Carlos Drummond de Andrade