segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ester e Débora - Parte 1

Aqueles desconfortáveis bancos no salão nunca acumulavam poeira. Milagre? Não... eram apenas Ester e Débora. Recém-casadas com os mais habilidosos evangelistas da igreja, ambas sabiam que era uma questão de tempo qualquer deles ser promovido, então faziam de tudo para fazer tudo o que havia para ser feito. O comportamento delas, elas sabiam, determinaria qual dos maridos seria agraciado primeiro.
Elas eram amigas, eles também. Berço evangélico era privilégio de poucos ali. Então, esses filhos de pastores e missionários, como importantes membros, em qualquer problema ou privilégio onde certo grau de santidade fosse exigido, tinham sempre seus nomes citados. O resultado lógico? Grandes e felizes uniões... para manter todo esse tesouro em família, afinal.
Naturalmente, e graças a Deus, os rapazes conseguiram cargos na editora da igreja. Também se sabia que com o poder que vem do alto, logo seriam chefes de sua divisão... tão logo se tornassem pastores, imaginavam. É preciso estar preparado espiritualmente para tudo, o espírito é quem conduz. E o espírito os conduzia a trabalhar até onze da noite nas sextas feiras, só pra agradar a chefia. Além das horas extras que já vinham incorporadas no horário por eles mesmos e que os fazia sair no mínimo uma hora depois do expediente. Trabalhavam muito! E, como servos incansáveis da obra de Deus, mal chegavam em casa já iam se aprontando para ir ao culto. Era preciso prosperidade... segunda-feira. Orar pela saúde na terça. Quarta são organizados os elementos para os membros levarem na quinta da Reunião Especial. Os ministérios se reúnem em vigília nas sextas, era fácil ir direto do trabalho pra lá.
As moças não se incomodavam, faziam o mesmo. Benção de Deus era aquela creche onde seus bebês passavam o dia quase que inteiro. De manhã iam para a consagração abençoada orar para terem mais bênçãos. De tardinha é que chegavam, almoçavam pela igreja mesmo, limpavam um pouquinho mais ali e aqui, sempre se esforçando para manter a perfeição da Casa de Deus. Pegavam seus filhos na creche, levavam pra casa, faziam cochilar. Elas arrumavam tempo para tudo: o cabelo, as unhas, o vestido, as compras. Pareciam malabaristas! Então cochilavam também em meio aos comerciais da sessão da tarde. Mas não demais, ou perderiam o culto. Onde está o marido, deve estar também a mulher. E... não poderia varrer o chão àquela hora... faltavam quarenta minutos apenas para a reunião! Se fizessem qualquer coisa diferente do que suas chapinhas milagrosas, chegariam atrasadas e feias. Estavam sempre brilhantemente elegantes, com as melhores roupas e sapatos. Vestiam-se como esposas de pastor. E, se permanecessem assim, logo o seriam.
Ester era filha do pastor da igreja. Ela sempre tinha oportunidade nos cultos. Cantava como um passarinho rouco... todo mundo sabia. Mas ela fazia de coração e Deus recebe assim mesmo, afinal, ela era quem ela era. Líder do ministério de louvor e da juventude e secretária da igreja, estava antenadíssima na moda que acontecia. Mãe e cheia de tarefas, tinha estilo pra dar inveja ao grupo das irmãs. Era jovem, então que mal existia em andar bem arrumada? Um batom não é pecado se está nos lábios de quem o pode usar.
Débora não tinha pai, falecera tempos atrás. Era o mais querido pastor que a igreja já tivera antes do pai de Ester. Ester sabia disso, e sabia que seu pai só fora promovido porque o pai de Débora já estava no céu. Mas fingia não se importar com isso, já que todos eram muito felizes e seguiam os planos de Deus. Junto a isso a mãe de Débora era missionária e desde que perdera o marido, nada mais fazia se não viajar pelo país falando de Jesus. (Glória a Deus, há males que vem para o bem.) Não que tenha ficado triste, afinal sua mãe trabalhava para o Rei, mas Débora sempre imaginou como seria se sua mãe tivesse ficado com ela. Não surpreende saber que essa é líder do grupo de visitas, de missões e dos eventos externos - que são raros, mas especiais para ela.
Seus ministérios nunca batiam de frente com os de seus maridos. Tudo o que faziam, faziam junto deles, ou no lugar deles às vezes – não tinham tempo para tudo! – e quando precisavam sair dali, eram os quatro – esposas e maridos – que iam juntos. Bendito seja o ministério das vovós... ajudam demais nessa hora. As crianças pelo menos, adoravam.
Que criança não gosta de brincar, se divertir, comer deliciosos doces e ter atenção de alguém por mais de dois minutos? As vovós não ligavam... e com os dois pequenos - um neto, outro não – se divertiam maravilhas com as saídas e viagens que os papais davam para Jesus.
Fim de semana? Os mesmos papais acordavam bem cedinho e iam para o monte. Depois desciam direto pro Futebol dos Irmãos que ninguém é de ferro. Que mal tinha um empurrãozinho de leve às vezes? É futebol, e não balé! As esposas iam para o ensaio do louvor... depois se reuniam para discutir as cores dos novos uniformes... nos sábados, cada festividade é diferente da outra. As roupas também devem ser.
Os domingos de escola dominical, mais ensaio, mais almoço, mais limpeza, mais comunhão e tudo isso eram costumeiramente doados ao Senhor. É o dia dele, afinal. Louvado seja em todo o tempo.
Com que alegria não passavam seus dias... Não havia chuva nem tempo ruim que os fizesse sair de sua rotina tão incrivelmente devotada ao Senhor Jesus, tão devotada à obra do Mestre como eles faziam. Deus os abençoava muito, eram gratos por isso. O louvavam por isso.
Por essa razão os bancos permaneciam limpos... não tinham tempo nem motivo para não estarem. Eles poderiam contar grandes histórias se quisessem. Quantas coisas já viram e ouviram... quantas lágrimas já não caíram sobre eles...
Débora é prova disso. Não raro ali se recostava a chorar. Tinha a vida tão perfeita, tudo tão esquematizado! Talvez fosse de alegria, quem sabe. Mesmo os bancos já ouviram qualquer assunto entre Débora e Ester nas ocasiões, mas a amiga logo se apressava em tirá-la dali para que outras irmãs não vissem nela choro nenhum. Esposas de futuros pastores e servas de Deus não choram nunca! São abençoadas demais pra isso. Todo mundo sabe.

Um comentário:

A caminhada solitária disse...

Garota, ativismo religioso é fogo... essa praga eh contagiosa e tah virando epidemia!
é fogo...
Ei, se foi tu q escreveu mesmo, dexa eu t dizer... falta uma certa virossimilhança ali, não?
Fica na paz, e vai fundo, mulher!