segunda-feira, 13 de junho de 2016

15º dia.

Hoje na volta pra casa presenciei uma situação interessante. Observar as pessoas pode ser um passatempo reflexivo, apesar de andar meio fora de moda - as cabeças estão todas curvadas para os espelhos negros.

A menina, 16 anos talvez, vestia jeans velho, tinha a barriga de fora e chinelos. Era bonita, ainda assim. Comia um salgadinho Torcida, conversava com sua amiga. Então, um vendedor ambulante passou e perguntou 'me conhece?', ela juntou o charme que possuía para dizer que não... ele vendeu mais o seu peixe, olhou pra ela, sorriu. Sorriram. Ele foi embora.

Ela ria-se disso e passou a contar que no outro dia um moreno alto e musculoso com tatuagens e olhos verdes tb vendedor piscava para ela enquanto oferecia seu produto. Daí a cantada irresistível: 'alguém mais? estou indo para o outro vagão!' e repetia... e ela... 'ele achou que eu ia dizer alguma coisa... hahahah eu não disse nada. Só pensei: sai pra lá, carcaça! Que menino perturbado!'

Ao observá-la não fui capaz de deduzir de onde vinha ou para onde ia aquela hora da noite com sua amiga. Mas via-se por sua fala que não havia nada de substancial em sua existência. Mais uma mente levada pelas circunstâncias. E ela julgou que rapazes, mesmo os bonitos, que se interessassem por ela seriam perturbados, problemáticos, como continuava a dizer.

A reflexão que me provocou foi essa mesmo. A jovem não tem perspectiva sobre si mesma, nem sobre o amor, nem sobre nada. Escolheu viver sendo levada por circunstâncias. E quem não duvida, já disse Descartes,não pensa. Nem sequer existe.

Talvez a conclusão seja precipitada. Mas, se não ela, certamente muitos naquele vagão estão a viver suas vidas sem questionamentos, sem reflexão. Marionetes que escolheram ignorar as cordas que os prendem e só dançar a música. É angústia e dor ser senhor de si mesmo. E há de se concordar que  ninguém quer viver angustiado e dolorido.

Pensei em mim mesma, na minha juventude, no amor que tenho pela minha família e pelo meu marido. Minhas reflexões alcançam a profundidade que deveriam? Meus argumentos sustentam uma postura de vida? Até que ponto? Vale a pena angustiar-se? Pois a libertação é loucura, o mito garante.

É natural o desejo por abrir os olhos, por dizer a ela que o amor juvenil pode ser lindo e ir muito além de superficialidades... quis sentar e contar que está perdendo tempo em se comportar como um objeto e não deixar que o amor, ou as paixonites, sejam saudáveis para si mesma como menina, como estudante (pra crescer), como alguém com auto estima elevada, sorrisos e paz para o espírito. Mesmo que ainda como marionete.

Lembrei desse trecho de 'A insustentável leveza do ser'... se estiver lendo, amiga, lembre que vc pode ter uma nova postura diante da vida e sair do status de incontável para o de única. Valorize a si mesma e a seu corpo. Liberte sua mente e cresça. E crescer, que será? Descubra...

Tomas pensava consigo próprio que ir para a cama com uma mulher e dormir com ela são duas paixões não só diferentes como quase contraditórias. O amor não se manifesta através do desejo de fazer amor (desejo que se aplica a um número incontável de mulheres), mas através do desejo de partilhar o sono (desejo que só se sente por uma única mulher). 

Milan Kundera

Nenhum comentário: